SURICATO – SOL-TE (2014)
Entre a praia, o asfalto, o sertão e a montanha.
Sem muros, com despretensão, mas ao mesmo tempo com obsessão em trazer qualidade embalando música popular. Pra tanta gente isso parece impossível mas para a Suricato é natural.
Mas fica a questão: como superar Superstar, onde as musicas eram apresentadas com fortes tintas emocionais?
Simples: reinventando-se pela 3 vez.
1 – Bom Começo
Uma surpresa pra quem não foi aos shows da banda, ouvimos falsetes que não estamos acostumados na voz de Rodrigo. Bom Começo traz tons amadeirados e timbres graves da cozinha. Uma tônica do que vem por aí. Letra direta, mas ao mesmo tempo bastante poética, que abre-alas às experiências, com canções “nos levando pra bem longe”. A canção embala no final, em um crescendo que culminam em dedilhados deliciosos. O fôlego é retomado com a cozinha pulsante e final à Violent Femmes.
2 – Trem
A força de um riff está no que te impele a imaginar. Caso raro onde ele combina perfeitamente com a temática. Imagens sonoras formam-se instantaneamente. A viagem começou. Pare, olhe, escute! Vocais dobrados (com autotune?) no pre-refrão são o máximo de modernidade que se permite pra um single da Suricato. Didgerigidoo presentes com o slide em perfeita sintonia. A partir do 2o refrão a canção assume o country-rock presente da versão do Superstar. Vocais inspirados fazem a locomotiva levantar vôo. Mas não falta lenha.
3 – Diante de qualquer nariz
Vibrafones acompanham os instrumentais precisos e preciosos. Talvez a melhor letra de Rodrigo. Vindo deles, os harmônicos e ponteios de viola de Schwab não só surpreendem. Simplesmente, emocionam. Bateria singela e precisa. Explosões embaladas no final, com direito a dobro. Uma riqueza instrumental notável. OMG, ouço cítaras?
4 – Bobagens
A introdução remete a trabalhos de Mpb instrumental de gente grande. Mas o os ponteios country-blues de humbucker não escondem a intenção de ser uma balada à Dylan. Harmonias vocais absolutamente fantásticas, maravilhosas. Uma ode à liberdade que cabe dentro de uma mala. Faz todo sentido.
5 – Pra tudo acontecer
Uma melodia 80’s com letra inspiradissima de Moska. As vocalizações novamente carregam pra outra dimensão. O arranjo do baixo é interessantíssimo, ser ser intrincado. A letra remete aos desafios q a banda enfrentou em certo programa, mas ao mesmo tempo reflete o q todos precisam: não precisar ser entendidos, não precisar ser de uma turma, poder assumir os imensos riscos de serem livres. E de repente fazer seu sol brilhar.
6 – Um tanto
As introduções das canções merecem um capítulo a parte. Mas a temática desta canção também. Inspiradora, pra falar o mínimo. A citação a Harrison ficou pelo caminho, mas o sol veio, e bateu forte por aqui. Sem se esquecer de Renato Teixeira e o Clube da Esquina. Violões de todas as cores e texturas estão aqui, dizendo LOVE! Uma melodia solar, sem dúvida. Soa familiar. Mas de uma originalidade sensacional. Percussão minimalista mas interessantíssima. Canção com final emocionante. Hey!
7 – Not Yesterday
A melhor surpresa (pra quem não conhecia) do álbum. Lulu regravaria e retribuiria a gentileza. Mas com Ben Harper e Eddie Vedder soaria sensacional. Uma letra super bem-sacada, citando referências, embalado pelo instrumental mais praiano do álbum. E pensar q tudo veio de um sonho, de um assobio… Haja inspiração.
8 – Do que não sei
Uma melodia absurdamente emocional. Uma verdadeira montanha russa, ou um “zigue-zague desejo”. Rodrigo brinca de ser o ultimo romântico. E vai excepcionalmente bem. Talvez a música que Gadus e Carolinas sonham em gravar há muito tempo. Timbres atmosféricos, reverberam em vocais sublimes, no fundo da alma.
9 – Eu não amo todo dia
Bluesy feelings por aqui. Samuel Rosa contribuiu? Ou foi Nando? Mas isso é mesmo Suricato. Não tem como não reconhecer. Shhhhhh. Ouça: violões nervosos, baixo pulsante, bateria perfeita, hammonds celestiais, ou seriam vozes? Mas afinal, o que é esse pré-refrão? As pentatonicas de todo mundo conversam amigavelmente aqui. Uma Babel harmônica. E o cheiro de estrada vem com a gaita e a slide Guitar. De um chute no patrão, calce sua bota e vá ser feliz.
10 – Todo Amor
Uma guitarra ronronante (mas crocante tb) acompanha uma letra pessoal até explodir num instrumental envolvente. O refrão gruda por ser direto e absolutamente cantarolável. Harmonias vocais que vem da alma e de repente: clap clap clap! Lá vem elas. Pop de altíssima qualidade. Elegância. Estilo. E que solo arrebatador. Ter 2 Guitar Heroes tem suas vantagens.
11 – Inseparáveis
Cusco. Calcutá. Corumbá. Perth… Salve a música folclórica de todo o mundo. Todo cuidado é inútil em tentar descrever a perfeição desta canção. Um encontro de ponteios de viola, uivos e trilha de road movies. Poderia estar em Into the Wild. Poderia estar em Californication. Mas já habita o coração de quem tem amor por boa música. Um atestado de competência numa música popular universal.
12 – Quando você crescer
Os falsetes voltam. Com um ukulele. Numa canção de ninar. Faz todo sentido pra uma despedida de álbum que prima pelo apego ao simples, despojado, sem abrir mão da absurda qualidade de cada instrumentista… mas espere aí! Não acabou!
13 – Talvez
Se o mundo fosse perfeito, os homens enxergariam seus amores assim. Footloose diz olá na batera pra carregar nas tintas de uma letra que comemora a mulher deslumbrante, encantadora, e que te ignora… Riff matador e inesquecível na melodia mais pop da Suricato. Menos divertida que em Superstar, mais contida que em “pra sempre primavera”, Talvez (agora sim) encerra o álbum com maestria.