Como a cidade mais violenta do mundo virou um modelo de segurança e qualidade de vida

por | nov 26, 2015 | cidades, coluna, Sem categoria, urbanismo | 0 Comentários

Como a cidade mais violenta do mundo virou um modelo de segurança e qualidade de vida

Cordialidade, limpeza, educação e generosidade. Carros freiam para o pedestre passar – mesmo quando não há faixas. Uma cidade praticamente sem mendigos. Com policiamento ostensivo, sim, porém com policias tratados como heróis. Mesmo com índices de homicídios próximos aos de São Paulo (que são bem menores em relação aos do Brasil), a sensação de segurança é simplesmente extraordinária. Esta é Medellín, Colômbia, em 2015. Referência em mobilidade, segurança e soluções urbanísticas.

Porém nem sempre foi assim. Quem tem menos de 30 anos talvez não se lembre, mas Medellín na década de 90 era conhecida por outras “qualidades”.

Narcotráfico, violência, corrupção e desigualdade. No final dos anos 80 dali se controlava 80% do tráfico de cocaína nas Américas. Quem acompanha a série Narcos (Netflix) talvez tenha a dimensão de como o Cartel de Medellín, comandado por Pablo Escobar aterrorizava não só a cidade, mas o país. Carregou o desonroso título de cidade mais violenta do mundo, por um bom tempo.

A pergunta é: como os colombianos conseguiram reduzir de forma radical a criminalidade num país com dilemas mais complexos que os do Brasil? Qual a fórmula de segurança deles?

Nos anos 90 um movimento chamado “Compromisso Ciudadano” começou a articular acadêmicos, empresários e lideranças comunitárias em torno de um projeto de cidade. Em 2003 o sucesso do movimento elegeu Sergio Fajardo para a prefeitura.  Seu governo foi marcado pela proposta de construir os melhores e mais belos espaços públicos nas áreas mais pobres da cidade.

A equipe de trabalho se caracterizou por ser conhecedora da vida urbana, comprometida com os ideais e sensível com os temas sociais. É quando começa o processo de transformação urbana, social, educativa e cultural da cidade. Foi proposta uma estratégia política que afetou a paisagem construída, e também a paisagem social, e promoveu um modelo para a tomada de decisões que continua até hoje.

O sucesso destas medidas é uma prova que a ocupação dos espaços públicos pode mudar não só a cara de uma cidade, mas o caráter da população.

Como resultado, um modelo de transformação social, na qual a arquitetura desempenhou um papel primordial. Faz parte de um projeto político empreendido pelos últimos prefeitos, sob o lema “Medellín mais educada”. Seu objetivo principal é devolver a dignidade às pessoas afetadas pela guerra do narcotráfico de 1980 e 1990, porém afetou toda a cidade positivamente.

Os moradores das localidades mais pobres, ao serem tratados com dignidade e respeito, passaram a ter orgulho de viver nas suas comunidades. A elevação da autoestima dessas populações repercutiu em outras áreas da cidade, que ganharam projetos de urbanização, de pavimentação de ruas e calçadas, de renovação de praças, parques e jardins. A resposta dada pela sociedade foi zelar pela integridade do patrimônio público recuperado.