Hei, você, sabe definir o que é qualidade de vida? Afinal, qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando ouve este termo que vive saindo da boca de políticos, corretores de imóveis e afins?
Caso não tenha uma resposta, vou dar uma pista, baseada na minha opinião: a qualidade de vida numa cidade é medida pela dimensão da vida coletiva que é expressa nos seus espaços públicos, seja no parque, na praça, na praia ou mesmo na rua.
Nesta definição, temos mais uma daquelas expressões misteriosas… o tal do espaço público. Vou me arriscar também nessa: o espaço público de uma cidade é o lugar do lazer, do descanso, da conversa corriqueira, da livre circulação, da troca e, sobretudo, da possibilidade do encontro com o outro.
Sua cidade tem espaços assim? Conhece alguma cidade melhor? Pense em como as cidades e vilas foram construídas durante os últimos séculos e compare com a sua cidade. Será que seu bairro tem:
- Ruas tranquilas, mas com um bom número de pessoas?
- Muitas atividades pra realizar, sem ter de deslocar-se longas distâncias?
- Casas, prédios públicos, escolas e comércio próximos, às vezes até mesmo juntos?
- Espaços públicos acessíveis para pessoas de todas idades e gêneros, seguros e iluminados?
Infelizmente, hoje em dia, muitos tem sérios problemas, quando não vivem em locais como esses. Quer um (mal) exemplo? Brasília. Nossa capital federal tem: setor de Diversão, setor Cultural, setor de Embaixadas, setor de Mansões, setor Industrial Leve… Nenhuma variedade de usos. Tudo em seu “devido lugar”. Pergunte pra quem mora lá se alguma vez foi a pé pra escola, ou de bicicleta pro mercado. Bem, o fato é que a maioria de nossas cidades tem problemas parecidos.
O “planejamento urbano” excessivo, cheio de regras, que transforma a cidade em uma colcha de retalhos, cheias de restrições, zoneamentos e detalhamento de permissões pra cada área da cidade, transformou nosso cotidiano em um desperdício enorme. Temos hoje milhares de cidades com regras bizarras que prejudicam o bem estar de seus habitantes. Perdemos, tempo, dinheiro e às vezes até nossas vidas circulando distâncias enormes pra fazer nossas atividades diárias.
Não gostou da conversa? Então mude o assunto. Mude o cenário. Usemos nossa imaginação:
- Imagine se pudesse chegar em 5 minutos, caminhando ou de bicicleta, até seu trabalho, ou sua escola.
- Imagine encontrar produtos de qualidade e acessíveis no seu bairro, deixando seu carro em casa.
- Imagine ter acesso aos serviços públicos na sua própria comunidade, ou às vezes à distância de um clique.
- Imagine ter a tranquilidade de deixar seus filhos brincar até mesmo na rua. Aliás, qual foi a última vez que viu alguém pular amarelinha, ou até mesmo jogar taco numa rua?
Uma forma diferente de pensar a cidade vem ganhando força com o passar dos anos, inclusive no Brasil. Chamado de “Novo Urbanismo“, busca a criação de locais sustentáveis, que respeitem a escala humana (ou seja, que dá pra chegar em vários lugares, à pé ou de bicicleta, com conforto e segurança) onde as pessoas podem viver uma vida saudável e feliz. Com comunidades tranquilas, porém vibrantes, valorizando o que cada bairro tem, que é só seu.
Nomes como Jane Jacobs, Jaime Lerner, Alain Bertaud e Jan Gehl, e entidades como CNU, Strong Towns, Projects for Public Spaces tem influenciado cada vez mais líderes municipais para enxergarem os problemas das cidades não de um avião – vendo tudo de longe, em grandes zonas x, y e z, com planos gigantescos e caros – mas sim na rua, na escala das pessoas, humildemente valorizando seus saberes e necessidades.
Se você acha impossível isso, saiba que desde pequenas cidades no interior do Brasil, até grandes metrópoles como Nova York conseguiram avanços gigantescos em transformar suas cidades, tornando-as um ambiente melhor pra fazer negócios, educar-se, ter atividades de lazer, e enfim, viver. Mas pergunte-se:
- Será que estamos prontos pra transformar nossas cidades em locais assim?
- Estamos prontos para aprender com nossos vizinhos o que nosso bairro tem de bom e valorizando isso, antes de apenas querermos mudanças?
- Estamos prontos para cobrar também de nossos líderes mudanças que respeitem as pessoas e suas comunidades?
Bons exemplos existem, pessoas engajadas em melhorar a vida nas cidades também. Cabe a cada um trazer isso para o seu dia a dia, apoderando-se desse conhecimento, para daí sim, partir pra ação. Recuperando nossas casas, quarteirões, ruas, parques, vizinhanças, bairros, vilas, cidades e regiões.