Um jovem normal, considerado tímido e educado. O tipo que gostava até de facilitar o troco do caixa, sabe? O mesmo, que horas antes de cometer um massacre, afirmou em uma rede social:
“nascemos falhos, mas partiremos como heróis”.
Está claro que ele sofria, intensamente. Pra mim, após tudo que já foi dito sobre o massacre de Suzano, ficam três perguntas absolutamente pessoais:
- O que me diferencia de um assassino desse tipo?
- O que me impede de cometer uma atrocidade absurda como essa?
- Ok, não pretendo tirar a vida de ninguém, mas… será que de alguma forma estou tirando aos poucos o significado da minha própria vida e das pessoas que amo, por conta de meu sofrimento?
As respostas que encontrei são baseadas no que entendi da Regra 6 do livro “12 Regras para a vida – um antídoto para o caos”, do gênio canadense Jordan B. Peterson.
Tiros em Columbine
Sim este assassino teve inspiração. Ele pesquisou e muito na internet. Acabou se identificando com os adolescentes que cometeram o mesmo tipo de monstruosidade em Columbine, em 1999.
Interessante notar a semelhança não só no ato, na intenção, mas na postura em relação aos outros seres humanos e consigo próprio. Essa frase, proferida por um dos assassinos de Columbine diz muito:
“A raça humana não merece que lutemos por ela, apenas que a matemos. Devolva a Terra aos animais. Eles a merecem infinitamente mais do que nós. Nada tem mais significado algum.”
Esses assassinos julgavam terem as qualidades necessárias para purificar o mundo. Não suportaram o sofrimento de serem humanos. Culparam os outros.
Uma vítima pode se vingar até onde?
Jovens que sofrem na escola, em casa, e na vida, são lugar comum. Aliás, todos nós sofremos, independente da fase de nossa vida. Jordan B. Peterson, afirma que basicamente nascemos pra isso. Em suas palavras:
“…todos estamos destinados à dor e programados para a destruição.”
Jordan B. Peterson
Porém, ele vai um pouco mais além. Peterson afirma que a solução para como encaramos o sofrimento não está tão longe: tudo começa no seu quarto. Não, espera aí. É sério.
Pra fazer um mundo melhor, arrume seu próprio mundo
Vamos partir do fato que o sofrimento é realmente inevitável. Mas será que ele irá nos corromper a ponto de nos revoltarmos contra a raça humana, nos tornarmos assassinos e depois acabar com a própria vida?
Primeiro considere as suas circunstâncias. Será que você aproveitou todas as oportunidades que teve em sua vida?
- Dê uma olhada por exemplo em sua carreira, no seu emprego. Você está fazendo o seu máximo ou prefere só reclamar de seu chefe ou seus colegas?
- Dê uma olhada para sua família de sangue: tem algum problema idiota com seu irmão, seu pai, sua mãe… enfim, com as pessoas que conviveram com você boa parte da sua vida?
- Olhe para a família que criou e que constituiu. Trata bem seu cônjuge, seus filhos? Está dando o seu melhor?
- Olhe para você mesmo! Será que seus atos contribuem para sua saúde física, mental e espiritual? Quando surge alguma responsabilidade que é só sua, você dá conta do recado?
Em resumo: você tem capacidade de fazer as coisas melhores ao seu redor? Seja franco: se você não consegue dar um jeito nessas coisas simples, como é que se atreve a querer dar um jeito na sociedade, como os assassinos de Columbine, Suzano e tantos outros?
Pare de fazer o que sabe que é errado
Se você percebe que a sua vida está uma tremenda confusão, pare de fazer o que sabe que é errado. Não perca mais tempo. Não perca o foco. Tem coisas que a gente sabe que é errado e que temos certeza que atrapalham a nossa vida. Pare. Pergunte-se honestamente:
- Eu enrolo pra fazer as coisas?
- Me atraso?
- Gasto mais do que devia?
- Tenho alguma diversão que me faz mal?
Pare.
Pare de culpar o governo, os políticos, as pessoas ruins. Assuma sua responsabilidade, faça o seu trabalho. Vamos dar uma olhada nos exemplos que eu citei agora há pouco? Comece por algumas coisas simples, bem simples:
- Está no trabalho? Diga o que pensa, faça o seu melhor. Não espere recompensa. Faça o que sabe que é certo.
- Com sua família, experimente dizer o que você realmente quer e como precisa deles. Diga não quando não puder fazer algo. E quando dizer sim, que seja de coração.
- Deixou algo sem acabar? Simplesmente termine.
O efeito imediato disso tudo é que sua vida vai se tornar muito mais simples. É possível que até mesmo sua ansiedade, amargura, ressentimento, raiva e indiferença diminuam consideravelmente. Você vai perceber que poderá se tornar uma enorme força para fazer o bem a si próprio e às pessoas que convivem com você.
Pense pequeno, no melhor dos sentidos:
- Pare de se atrasar
- Pare de interromper os outros
- Faça as pazes com quem ama
- Use os recursos que tem com cuidado e amor
O resultado é absolutamente pessoal e intransferível. Você se tornará mais calmo, agradável, confiável e produtivo.
Chegou a hora do seu quarto
Acha tudo isso ainda muito complicado? Então comece a arrumar sua vida pelo seu quarto. Veja o vídeo abaixo, do próprio Peterson, realizado pela Prager University:
A capacidade de concisão de Peterson é algo ainda a ser estudado. Mas ainda assim, recomendo o livro, inteiro. A conclusão que eu cheguei é essa:
- As outras pessoas não são o problema. Eu sou o problema.
- Não posso mudar as outras pessoas. Mas posso mudar a mim mesmo. É claro que é muito mais fácil culpar os outros.
- Ter coragem e disciplina para ser uma pessoa melhor por outro lado, é difícil. Mas é o melhor caminho. Para mim mesmo, para quem me cerca, me tolera, me abraça ou até mesmo me ama.
Acho que consigo responder às perguntas que fiz no começo do artigo: não me tornarei um assassino, nem mesmo pretendo tirar a essência e o significado da vida das pessoas que amo. E se eu consertar a mim mesmo, farei meu mundo – e o dos outros – muito melhor.
Meu quarto – o espaço mais íntimo que vivo – me espera. E como está o seu?