Os anos se passam e aprendemos muitas coisas. Ou pelo menos, deveríamos. Com o passar do tempo, vemos que não cometemos mais certos erros. Ou pelo menos, também deveríamos. Falando sobre o tempo, ele pode até começar a sobrar, não é mesmo? Horas e horas em redes sociais, maratonas infindáveis de séries. Mas junto com isso vem um gosto amargo também. De que nossos dias vão passando, sem um objetivo definido na vida. Vem a solidão, e com ela a depressão, a ansiedade. E sobram perguntas:
- Existe um remédio para tudo isso?
- Será que tudo que aprendi e realizei durante minha vida não serviu de nada?
- Devo realmente não ocupar meu tempo, levando uma vida sossegada, sem maiores esforços ou novos aprendizados?
Definitivamente não. O filósofo Diógenes era quase sempre criticado por não se cuidar na velhice, por ser muito ativo quando deveria estar simplesmente relaxando e descansando, numa boa. Como era de se esperar, Diógenes sempre tinha a resposta perfeita para esses questionamentos: “E se eu estivesse correndo no estádio, eu deveria diminuir o ritmo ao me aproximar da linha de chegada?”
Em resumo, seu argumento era que nunca devemos parar de melhorar, nunca parar o trabalho que nos propomos a fazer. Ele viveu isso, de fato. Até o fim de sua vida, Diógenes questionou a futilidade, lutou contra vícios e desejos, desafiou o poder e insistiu na verdade.
O que faz em seu tempo livre diz muito sobre quem você é
Sêneca tem muitas de suas reflexões sobre o tempo reunidas no clássico “Sobre a brevidade da vida“. Entre as inúmeras pérolas, uma delas se destaca no contexto desse assunto, por ser extremamente atual, tendo em vista o desperdício de tempo gasto em coisas fúteis.
Pequena é a parte da vida que vivemos. Pois todo o resto não é vida, mas tempo.
Sêneca
Portanto, dá pra perceber que Diógenes não estava sozinho nessa preocupação. Os estoicos tinham uma opinião bem clara sobre o tema. Para eles, a velhice não era desculpa para o bonança. De fato, dá a impressão que muitas das passagens mais fortes das “Meditações” são escritas por um Marco Aurelio idoso. Um homem experiente, mas que ainda está frustrado consigo mesmo por sua ansiedade, por suas paixões. Em certa passagem, ele diz isso de maneira mais ou menos direta: “Por quanto tempo você continuará fazendo isso? Você é velho e ainda não consegue acertar”.
O que realmente significa tirar um “tempo pra você mesmo”?
Da mesma forma, os cristãos do primeiro século também não pensavam em tirar o pé do acelerador, tentando se tornar mais próximos e parecidos com seu mestre, não importa a idade. Paulo, em sua carta aos Filipenses, foi bem direto, utilizando a mesma metáfora esportiva que Diógenes usou:
Irmãos, não me considero ainda como o tendo obtido; mas uma coisa é certa: esquecendo-me das coisas atrás e esticando-me para alcançar as coisas à frente, empenho-me para alcançar o alvo, a fim de receber o prêmio da chamada para cima da parte de Deus, por meio de Cristo Jesus.
Paulo era um seguidor de Cristo, notável pelo seu trabalho, admirado até hoje. Mas ele ainda estava tentando melhorar. Ele se recusou a tirar o pé do acelerador. Ele continuou acelerando, até a linha de chegada, e nós também deveríamos. Não importa quantos anos temos, não importa há quanto tempo estamos nessa, com certeza é muito cedo para parar agora, para dizer “já cheguei perto o suficiente”.
É muito importante também o trecho em que Paulo ressalta a importância em esquecer-se “das coisas atrás”. Ele sabia que, para terminar a corrida, teria que se concentrar no alvo. Isso significa que ele não valorizava o passado, nem para o bem, nem para o mal. Ou seja, não ficava distraído pensando em grandes feitos ou conquistas na vida ou os erros cometidos no passado. Para Paulo, esse passo era fundamental para completar sua corrida.
Não vale a pena tirar o pé do acelerador
Paulo sem dúvida sabia do que estava falando. Afinal, o que lembramos do nosso passado é sempre baseado em uma visão extremamente limitada, descontextualizada e tendenciosa dos fatos. Por sinal, na maioria das vezes, o ego acaba se apropriando de traços de nossa memória e fazendo o que sempre faz – nos dá uma identidade, aprisiona e limita nossas ações. Quantas vezes nossa mente nos impede de viver o presente, dar o nosso máximo e viver plenamente, porque simplesmente estamos amarrados ao nosso “passado” fantasioso?
Portanto, o desenvolvimento pessoal e a busca pela sabedoria, passa sempre pelo momento presente, e pelos nossos alvos, nossa “linha de chegada”. Dar o nosso melhor esforço, dar tudo o que temos, todos os dias, é o melhor antídoto para uma vida mais satisfatória e plena. Voltando a Diógenes, assim como o atleta se esforça ao máximo quando está na reta final da corrida, devemos continuar nos esforçando, dando o máximo, fazendo tudo o que estiver dentro de nossas circunstâncias para alcançar nossos alvos.