Uma das boas coisas da vida, sem dúvida, é ter amigos. Que nos ouvem, falam, zoam, inspiram. E claro, que nos ajudam a ter foco. Esse artigo é uma reflexão baseada no que um amigo especial escreveu. É um artigo inspirador, escrito por um cara que sem dúvida alcançou o sucesso. Por sinal, acredito que temos a mesma definição de “sucesso” em mente. Aprendi muito com ele, e sugiro que antes de ler as linhas abaixo, vá pro artigo do Carlos Renato. Outra preliminar: achou legal a imagem que coloquei, com uma mulher linda sendo beijada, mas nem um pouco focada? É uma referência a uma das bandas prediletas da casa, os galeses do Stereophonics. Trata-se da capa do álbum Performance and Cocktails, que ouço nesse exato momento. Mas vamos ao que interessa, afinal.
Ter foco hoje, é o caminho do sucesso?
O artigo de Renato, com o pernóstico título “Um mundo de oportunidades, o Foco e os Passos para você melhorar a sua vida agora e exponencialmente”, traz um ponto de vista singular sobre os benefícios em ter foco, ao passo que vivemos numa revolucionária era com acesso infinito à informação. Um dos trechos memoráveis do artigo é incisivo em sua crítica aos comportamentos adquiridos por nossa sociedade transitória e desatenta:
“…mas a maioria, pelo menos nesse momento de transição, comporta-se como filhos de pais ricos que têm tudo na mão para evoluir ainda mais, mas optam pela resignação e ou preguiça.”
Sensacional, não é? Seria essa descrição uma atualização do inesquecível “señorito satesfecho” de Ortega y Gasset, aquele sujeitinho que se acha o especialista afoito em falar sobre vários assuntos gerais, desprezando sua ignorância em todos eles? Se você quiser uma descrição desbocada e bem humorada desse cara, sugiro ouvir a música dos Acadêmicos de Milton Friedman:
O fato é que o assunto principal do artigo de Renato é o poder do foco, e como desenvolver essa habilidade transforma positivamente nossa vida, nos levando ao sucesso.
Então, as minhas reflexões serão baseadas na relação do que há de mais avançado em pesquisas sobre o foco aplicado ao desenvolvimento pessoal – como o que Renatão compartilhou em seu artigo, com a tradução do Nir Eyal, autor do maravilhoso Hooked – com ensinamentos antigos, atemporais. Em tempo: escrevi recentemente sobre como a obsessão em ter uma “vida melhor”, pode nos afastar desse objetivo. Também acredito que o mesmo raciocínio se aplica ao “sucesso”. Dito isso, vamos em frente.
Ter foco, para os cristãos
Como diria Flávio Morgenstern, tudo que há de bom vai acabar passando pela Bíblia, pelos gregos e alguns romanos. Então, evidentemente vou primeiro ao livro sagrado:
Jesus Cristo, em Mateus 6:34
e
“Ninguém que tiver posto a mão num arado e olhar para trás está apto para o Reino de Deus.”
Jesus Cristo, em Lucas 9:62
As lições para o contexto dos cristãos são óbvias. Jesus Cristo mostrou por essas palavras a importância de seus discípulos o seguirem de todo o coração, concentrados, com foco, para entrar no Reino de Deus.
Porém, acredito que a profundidade e a natureza radical desses ensinamentos podem ser aplicadas e reconhecidas também em nosso cotidiano. Afinal, a importância de termos planos, metas e objetivos claros em nossa vida é fundamental exatamente por esse motivo.
Dessa forma, as distrações – o “amanhã”, ou o “olhar para trás” mencionados por Jesus Cristo – ficarão distantes. Ao passo que temos planos, temos um norte, ou seja uma orientação para nossa vida. Daí em diante, estaremos livres para nos concentrar e colocar o máximo esforço, fazendo tudo que estiver ao nosso alcance, em cada tarefa do dia a dia.
Ter foco é importante, mas não determina o resultado
Mas é evidente que nem tudo depende disso. Nossos esforços e foco são fundamentais, mas não determinam o resultado. O resultado que colhemos de nossas ações têm sempre a interferência de inúmeros fatores, e devemos aproveitá-lo, simplesmente como se apresenta, não importa o saldo. Afinal, o que é um rochedo (resultados desfavoráveis) para uma torrente d’água contínua (nossas ações conscientes e focadas, pretendo concretizar nosso plano)?
Indo para a escala das ações, não pensar no passado, nem imaginar o futuro, nos leva para o agora, o momento presente. Nesse estado de conexão interior, acabamos ficando muito mais alertas. Essa atenção plena, ou mindfulness, pode ser colocada em prática em qualquer atividade rotineira. O que normalmente é considerado como apenas um meio para atingir um objetivo, irá acabar transformando-se em um fim em si mesmo.
Ter foco então, nos dá uma liberdade e plenitude sem comparação. Afinal, vivemos no presente, nossas ações se dão no momento. Eckhart Tolle tem uma definição espetacular do que não é o presente em seu “O poder do Agora”:
“O passado nos dá uma identidade e o futuro contém uma promessa de salvação e de realização. Ambos são ilusões.”
Eckhart Tolle
Ter foco, para os estóicos
Os cristãos do 1o século até hoje, podem tirar pleno proveito dos ensinamentos de seu líder. Mas a sabedoria das palavras de Jesus Cristo também encontra ecos nos estoicos – base fundadora de toda a literatura de desenvolvimento pessoal contemporânea. Pra ilustrar como eles encaravam a necessidade de vivermos o presente, e claro, ter foco, comecemos com citações de dois de seus pilares, Sêneca e Epiteto:
“Os animais selvagens fogem dos perigos que realmente vêem e, uma vez escapados, não se preocupam mais. No entanto, somos atormentados pelo que é passado e pelo que está por vir. Várias de nossas bênçãos nos prejudicam, pois a memória traz de volta a agonia do medo, enquanto a previsão o traz prematuramente. Ninguém confina sua infelicidade ao presente.”
Sêneca
e
“Cuidado neste momento. Mergulhe nos detalhes. Responda a essa pessoa ou a aquela pessoa, a esse desafio, a essa ação. Saia das evasões. Pare de se dar problemas desnecessários. É hora de realmente viver; para habitar completamente a situação em que você está agora. Você não é um espectador desinteressado. Participe plenamente.”
Epíteto
Portanto, ter foco significa estar presente. Participar. Envolver-se. Concentrar-se no ato, ação, e não tanto no resultado. Isso só é possível se vivermos o momento com toda nossa consciência e atenção. O que os estóicos pontuaram claramente é que nós humanos, temos uma incrível capacidade de dissociar nossa cognição. Como assim?
Pare de ficar viajando!
Isso significa que temos uma IMENSA capacidade de pensar em algo que aconteceu ou acontecerá enquanto estamos fazendo algo no presente. Também abrange nossa capacidade de ter uma interação complexa com outra pessoa (até mesmo imaginária) em outro momento e lugar – dentro de nossas próprias mentes. E ainda, podemos nos colocar ‘dentro de outras pessoas’, imaginando o que eles pensam e como eles responderiam a nós em determinadas situações. Ufa!
Em resumo, usamos o poder da IMAGINAÇÃO de maneira maravilhosa. Essa habilidade é sem dúvida útil para a interação e o planejamento social, e várias outras atividades humanas. Mas também é a fonte de todos os nossos problemas, quando nos apegamos o tempo todo ao mundo imaginário da nossa mente para as ações do cotidiano.
Não ter foco no presente é seu estado normal?
Quer ver como isso é verdade? Então, olhe para o seu dia a dia e pergunte-se:
- Quantas vezes me envolvi verdadeiramente em uma atividade, sem ‘um olho’, sem viajar ao passado ou ao futuro?
- Quantas vezes mantive conversas sem sequer ouví-las de verdade, com a cara no celular ou na TV?
- Ou quantas vezes eu dirigi o carro e ao chegar ao destino, não me lembrava de nada da jornada?
Essa falta de atenção é geralmente porque estamos tão ocupados, preocupados com o passado ou futuro, ou com raiva ou ansiosos, que nem sabemos como é estar presente. Ou seja, apenas ESTAR.
Analisando especificamente o trecho final da citação de Sêneca, temos mais um ensinamento: “Ninguém confina sua infelicidade ao presente”. Em resumo, se trabalharmos continuamente para levar nossos pensamentos ao momento presente, aumentaremos nossa atenção. Ao mesmo tempo, descobriremos que a infelicidade e a ansiedade são impossibilidades. Afinal, esses sentimentos são apenas frutos do passado ou futuro, imaginários.
Saúde e Sucesso, Sempre!
Sem dúvida, ter foco pode nos levar ao sucesso, em sua definição mais ampla e generosa, como a que eu e Renato compartilhamos: vivendo plenamente para si, seus amigos e para o próximo, escolhendo as boas lutas e aprendendo com os erros.
Sim, aplicar princípios atemporais como os mencionados aqui, assim como os conselhos hiper contemporâneos de Nir Eyal, sem dúvida ajudarão a todos nós a obter clareza e sabedoria, ao passo que nos esforçamos em ser mais produtivos e bem-sucedidos.
Por sinal, acho de bom tom dar passagem a uma meditação inspiradora de Marco Aurélio, para terminar minha reflexão.
“Pense em você como morto. Você viveu sua vida. Agora, pegue o que resta e viva-o adequadamente. “
Marco Aurélio
Então, não perca mais tempo com distrações, com o passado, com o futuro. Vivamos adequadamente cada momento de nossas vidas. E “Saúde e Sucesso” pra você também, Carlos Renato, meu querido, sempre!