Já escrevi por aqui que realmente acredito que a vida traz com ela o sofrimento, indiscutivelmente. Partirmos desse princípio pode nos levar a inúmeros caminhos, como o vitimismo assassino, já visitado também no blog. Outra armadilha perigosa é resumida nestas 2 perguntas:
- Já que estamos nessa para sofrer, por que simplesmente não buscar o prazer e seguir seus impulsos?
- Será que vai fazer alguma diferença não mentir, trair, enganar e manipular ou outros, apenas para levar uma vida mais fácil, deliciosamente conveniente?
Acredito que não. E são motivos racionais, que acabam por trazer consigo uma intensa carga espiritual e claro, emocional. Vou tentar explicar as razões, resumidamente, inspirado pela Regra 7, do livro “12 Regras para a vida”, de Jordan B. Peterson, e por algumas passagens preciosas da Bíblia.
Sacrifícios valem a pena?
Afinal, donde vem essa noção de que vale a pena se sacrificar por algo? Olhando pra história da humanidade, dá pra notar que o sacrifício está ligado a uma certa preocupação com o futuro. Ou seja, temos que abrir mão de algo que desejamos, para um bem maior, mais completo, no futuro. E há uma história super simples para ilustrar esse princípio.
Simplesmente abra mão
Existem diversas formas de se capturar macacos. Mas essa aqui chega diretamente ao ponto em questão.
A primeira coisa a se fazer é arranjar uma jarra grande, mas com uma abertura pequena. Uma abertura apenas o suficiente para que o macaco consiga colocar a mão lá dentro. Em seguida, a jarra deve ser preenchida com pedras, para que o macaco não consiga carregá-la. Perto da jarra, devem ser colocadas algumas guloseimas, assim como dentro da jarra. Pronto.
A cena seguinte é tocante. Em questão de minutos, o macaco virá, colocará a mão na jarra pela abertura estreita e vai agarrar tudo o que puder. Porém… adivinha? O macaco simplesmente não vai conseguir tirar a mão fechada, cheia de guloseimas, pela abertura estreita demais da jarra. Por que? Porque não consegue abrir a mão. Ele não irá sacrificar a parte (as guloseimas dentro da jarra que não consegue carregar), para salvar o todo (sua vida, sua família, seu bando).
Pessoas bem-sucedidas negociam com o futuro
Outra analogia amplia o sentido do sacrifício, essa bem mais próxima de quem tem um filho. No Gênesis, tomamos contato com a história de Abraão, um homem rico, que é exortado a sair de uma vida cheia de comodidades, para morar em tendas, no meio do deserto, em troca de uma promessa divina: uma descendência numerosa, incontável. Detalhe: Ele e sua esposa são muito idosos, praticamente estéreis.
A história chega ao seu ápice no capítulo 22, quando Deus – que havia providenciado milagrosamente um descendente – pede a Abraão que entregue o mesmo à morte. Um pedido aparentemente ilógico e absurdo, que testou a fé dele. O final, sabemos, é feliz. Abraão foi obediente, e Deus aceitou um sacrifício alternativo (um cordeiro) no lugar de Isaque, seu primogênito. Ele foi abençoado e sua descendência realmente ascendeu aos milhões de pessoas. Abraão desistiu de algo valioso, para garantir a prosperidade futura de toda uma descendência.
Sacrificar-se a si mesmo, vale até que ponto?
Impossível não pensar no exemplo supremo de sacrifício por algo maior, ainda mais nessa época adocicada pela Páscoa, mas que deveria ser mais reflexiva – o de Jesus Cristo. Digno de nota que ele mesmo na Bíblia, ordenou aos seus seguidores que deveriam comemorar sua morte, e não sua ressurreição.
Indo direto ao ponto: que tipo de sacrifício poderia redimir o sofrimento humano? Apenas o melhor e mais valioso sacrifício. Oferecer a vida mais preciosa pelo avanço de pessoas imerecedoras. O próprio Messias recebeu sua recompensa – assumindo a posição de Salvador da Humanidade, ao lado direito de seu Pai. E claro, constituindo-se no modelo perfeito de um homem honrado.
Mirar a conveniência é esconder a sujeira debaixo do tapete.
O exemplo oposto disso é ser conveniente, entregando-se aos desejos mais rasos e imediatos. Viver de acordo com a conveniência é pensar no curto prazo, ser imaturo e irresponsável. É guiar-se pelo prazer instantâneo e superficial. É acima de tudo mentir – pra com quem convive, ama ou para si mesmo.
Será que Abraão poderia ter ignorado o pedido Daquele que amava e confiava? Jesus poderia ter se esquivado de sua missão e rapidamente ter se tornado rei do judeus – ou até do mundo terreno?
Há algo que une os que trabalham para o enobrecimento do ser e dos seus: um propósito.
Um propósito dá sentido e significado à vida
O melhor animal do rebanho. O filho mais precioso. Uma vida perfeita. Mas nós, pobres mortais, temos condição de oferecer o quê? O que está ao nosso alcance hoje, para negociarmos um futuro melhor, através de um sacrifício precioso? Termos um propósito.
Nossas ações corretas nos permitirão ter uma vida melhor agora e no futuro, além de fazer o todo começar a fazer sentido. Mas como começar? Pergunte-se honestamente:
“Como posso usar meu tempo, minha energia e meu dinheiro para deixar as coisas melhores em vez de piores?”
Seus recursos e habilidades são tudo o que têm para tentar aliviar a dor e sofrimento desnecessários. Mas tome cuidado e preste atenção: talvez o que tenha de consertar primeiro, no topo da lista, seja você mesmo. Ser consciente da própria limitação, covardia e ignorância é meu primeiro passo. Talvez seja o seu também. Não posso ousar acusar ninguém sem antes me empenhar em consertar a mim mesmo, guiado pelo amor e pela verdade. E claro, pelo propósito em que acredito.
Tudo o que realmente importa
Não ter uma vida de sacrifício é um sinal de que algo está errado. Pode até mesmo significar que estamos explorando e manipulando os outros, para alcançar nossos objetivos, ou pensando apenas no momento, no fútil e imediato. Isso importa?
Por outro lado, o sacrifício nos aperfeiçoa, nos transforma em pessoas mais avançadas. Conseguimos enxergar coisas muito além do que os olhos vêem. Pensamos no eterno, no significado e no sentido da vida. Isso sim, me importa.